Wednesday, December 29, 2010

Clichê pouco é bobagem II



- Fim de ano já, heim?
- Como passa rápido, parece que o ano começou ontem!
- Nem me fale. E quando a gente percebe... já é dezembro.
- E os planos pra virada? Vai descer pra praia?
- Vou sim, Praia Grande. Descemos amanhã, vai a família inteira. Ou quase inteira. Sabe como é, os filhos vão crescendo. Um mora longe, outro não pode vir... difícil conciliar.
- Eu vou descer com a família também. Mas vamos na véspera. Sabe como é, um trabalha, outro tem compromisso não sei onde... difícil conciliar.
- Cuidado pra não passar o ano novo na estrada. Todo ano tem gente que fica na estrada.
- Vira essa boca pra lá. 
- Mas diz aí, e 2011? Muitos planos?
- Os de sempre. A gente começa o ano cheio de promessas, mas duram no máximo até o carnaval. 
- Se bem que o ano só começa depois do carnaval, não é?
- Ah, só. Brasileiro é fogo. 
- De todo modo, desse ano não passa. Vou perder uns quilinhos que tô precisando.
- Não vá exagerar na ceia.
- E quem não exagera? Só comida calórica. Mas depois da ceia é fechar a boca.
- Opa, olha a hora. Deixa eu ir que estou atrasado. Um feliz ano novo para você, com muito dinheiro no bolso!
- Obrigado, igualmente. E  muita saúde, que é o mais importante. 
- O resto a gente corre atrás.

Tuesday, December 28, 2010

Erro #VALOR!



No Banco do Brasil, quase de saída:

- Mais alguma coisa?
- O meu cartão. As máquinas não têm reconhecido a senha.
- Frequentemente?
- Não muito. Uma em cada 10 vezes, imagino.
O caixa joga os dados no Excel mental, função divisão, e decreta:
- 1% apenas. Você deve ter digitado a senha errado.


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Thursday, December 23, 2010

Government-end thought


In the public service, every unfinished project is like a skeleton hidden in the closet. One day (and this day WILL come) they'll come alive to haunt you.

UAAHAHHAHHH! UAAHAHHAHAHA! (Thriller laughter)

Em-tempo blog wishes you a merry transition and a happy new year.

Tuesday, December 21, 2010

No Aquarela


Ontem, na hora de pagar. A atendente do caixa estava mais irritada que o de costume. Pensei que poderia aproveitar a ocasião para fazer um pequeno experimento behaviorista: tentaria transmitir a ela o máximo de calma possível, na esperança de observar alguma mudança de comportamento.
Chegou a minha vez. Perguntei educadamente em quanto ficou o almoço e contei o dinheiro na frente dela, sem pressa. Pedi o café-cortesia (que ela obviamente não tinha oferecido) e falei o número do CPF bem lentamente, a voz pausada e baixa. Ela estendeu o braço para entregar a nota, deixei que esperasse dois ou três segundos.
Agradeci e saí devagar, apreciando o resultado da minha influência.
Não funcionou, ela tava em outra vibe. Acho que a irritei.



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Monday, December 20, 2010

GPS Adventure


Semana passada eu tinha um compromisso em um lugar onde não fazia a mínima como chegar. A solução foi emprestar o GPS do meu pai enquanto não crio vergonha para comprar um próprio. Funcionou a contento nas ruas da metrópole, o que me encorajou a testá-lo novamente no caminho de volta. Queria apenas acompanhar o trajeto na telinha, pois raramente me perco para chegar em casa. Digitei o endereço de sempre e veio a pergunta: “Pedágios no caminho, deseja evitá-los?” Duas opções na tela: SIM ou NÃO.
Pensei um pouco, fiquei em dúvida. Evitando eu pago menos, mas posso ir parar em alguma quebrada e me tomarem mais que os R$5,80 que a moça da cabine me rouba toda semana. Enquanto pondero, o GPS cobra a resposta novamente. “Pedágios no caminho, deseja evitá-los?”. Quer saber? Topo, por que não? Vamo caí pra dentro.
Virei à direita e entrei na gloriosa Barueri. Contornaria umas 15 rotatórias até que, enfim desnorteado, o satélite conduziu-me sorrateiramente à zona rural. O problema é que o GPS do meu pai parece ter sido configurado para o modo Adventure. Fui direcionado para uma estrada paralela à Castelo, mas logo notei que o paralelismo não se limitaria à estrada. Era todo um mundo paralelo onde asfalto era terra, prédio era mato, cachorro era vaca e acostamento era pista. A sinalização também mudou bastante. No lugar das placas monótonas anunciando radares, pedágio e trânsito lento, avisos intimidatórios: “cruzamento perigoso”, “ponte estreita”, “curva fechada”. Confesso, porém, que não foi a via perigosa ou a possibilidade de um assalto o que eu mais temi. O medo que dá de seguir cegamente uma máquina é chegar em um rua sem saída e ouvir da voz: “Desculpe, me enganei. Eu tinha certeza que era por aqui”. 
Felizmente, não foi o caso. Meia hora (e cinco quilômetros) depois, estava eu de volta à Castelo. 
E sem pagar pedágio.

Friday, December 17, 2010

SP Underground III


Voltando para casa, vagão lotado. Não há privacidade em um transporte coletivo, o que não impede as pessoas de seguirem com suas atividades particulares. Alguns compartilham a leitura de livros. Quem resiste a dar uma espiada no título? Checar se confere com o estereótipo instantâneo de quando se bate o olho em alguém; outros falam ao celular para que todos fiquem sabendo das suas vidas. Há os que escutam música tão alto nos fones de ouvido que dá para surpreender o passageiro ao lado cantarolando junto.

Pois estava eu, ontem, em pé no vagão. À minha frente, sentado, um senhor com seus 50 anos mexia no celular. Jogava um jogo qualquer. Não entendi as regras, mas pela velocidade e concentração com que jogava algo me dizia que presenciava um momento especial. Algo próximo a um recorde mundial, ou coisa do tipo. Os dedos voavam pelo teclado, invisíveis de tão rápidos. Passava as fases com uma destreza que só se adquire à custa de horas diárias em trânsito. Olhei em volta. Os demais passageiros também acompanhavam a performance do senhor. Estivéssemos em um galeria de fliperama e teria formado um tumulto em frente à máquina, como nos filmes de cinema. 
A minha estação chegou, desci lamentando. O metrô nunca rende uma história completa. 

Monday, December 13, 2010

O carregamento fantasma


(uma história verídica, desenvolvida)

Três semanas foi quanto demorou. Dirão que faltou-me rigor quando da primeira avaliação. Que me precipitei. Insisto, porém, que o relato é justo e procedente. Foi uma fatídica noite de tempestade, com os raios cruzando o céu em fúria. Não poderia dizer que eram excessivamente ruidosos, ou que a noite era escura como nunca antes. São Paulo é barulhenta demais para que se escute; e iluminada demais para que não se enxergue. Mas eis que tudo mudou, e as características da cidade foram consumidas num átimo.

Shkazaaaaaam!!!!!!!!!!!!

Encontrava-me descendo a escada quando aconteceu. Parei de súbito, por reflexo e precaução. Nada mais se enxergava. Ouvia-se, porém (embora teria preferido que permanecesse o silêncio). No instante em que o bairro apagou, atingido pelo raio, da janela do apartamento partiu o ruído medonho de eletricidade se debatendo. Durou pouco. O bastante para garantir que se passaria a noite às escuras.
Com atraso, desliguei os eletrônicos da tomada.  O blecaute forçado terminou com as opções de estudo ou entretenimento, e havia muito pouco o que fazer àquelas horas da noite. Sendo assim, era natural que dormisse com alguma facilidade. O ritmo é outro sem energia (o que de modo algum é uma constatação negativa. Passado o lamento inercial, percebe-se como é saudável o retorno à idade da pedra).
No dia seguinte, o saldo da orgia elétrica: carregador do notebook queimado. Liguei o computador esperançoso, e o pensamento positivo pagou dividendos: sem avarias. Restavam 2 horas na bateria, e devo dizer que as usei com rigor sem paralelo. Email da Alinne Moraes? Ela tem meu celular. Pedido pessoal do governador? Vai ter que esperar.
Durante as semanas que se seguiram, o ritmo frenético do trabalho fez com que o tempo passasse e eu não tivesse oportunidade de resolver o problema. Garantia cobre raio? “Não, só se você acionar a concessionária”. Imaginei o trabalho de se acionar uma concessionária por tão pouco. Cotei o preço do carregador: 300 malandros. Como é caro! Liguei na Apple: não achei em nenhuma loja. A resposta deles, numa interpretação livre: “foda-se”.
Foi quando, com as esperanças se esvaindo feito palmeirense em fim de campeonato, um momento de desespero fez com que eu empreendesse a menos lógica das intervenções. Recordo-me do sentimento. Os pensamentos que me tomaram de assalto. O ingênuo otimismo com que resolvi fazer o que fiz. Segurei a peça queimada e a chacoalhei no ar. Duas ou três batidas de leve, seguidas de um olhar desafiador. Diria algumas palavras mágicas se as soubesse. Pronto. Liguei o carregador na tomada e aproximei o plug do notebook. A luz verde do carregador acesa foi para mim um momento de genuíno espanto. Não experimentaria surpresa maior desde a queda das torres gêmeas. O notebook em pleno processo de carregamento. E tem sido assim desde então. Testemunha diária do milagre elétrico.

Thursday, December 09, 2010

Pré-postagem


Tenho sido alvo de pré-ataques a respeito do futuro do meu time, terceiro colocado no Campeonato Brasileiro. Tudo porque o Corinthians vai ter que disputar a chamada “Pré-Libertadores˜. Mas, oras, que diabos é uma pré-Libertadores? Isso não existe. Aos secadores de plantão, um aviso: já estamos no torneio. Apenas teremos de cumprir a formalidade de enfrentar o time do Colômbia 3. É nóis de novo ano que vem. Correria.
Aproveitando o ensejo, o teor das mal-humoradas afrontas recém-lançadas contra o Timão fez com que eu pós-lembrasse de uma expressão análoga (e igualmente absurda) - desta vez referente às exibições nas salas de cinema. A “pré-estreia". Não é difícil ler no jornal: “O FILME X estreia nesta sexta, com pré-estreia quinta”. Pura contradição entre termos. Percebam pela análise deste singelo exemplo, caros anticorintianos, como é falacioso vosso argumento.
Vai Corinthians, rumo ao bi-mundial!

Esta postagem não seria tecnicamente viável sem a consulta às novas regras ortográficas sobre o emprego do hífen. Obrigado. Agradecimentos especiais também ao Iarley, nosso pseudoatacante. 

Sunday, December 05, 2010

Sem palavras


Certa vez comecei um conto de Natal, que ficou inacabado. Lembrei dele neste fim de ano e resolvi que era hora de terminá-lo. Não era especialmente bom, mas, para quem não sabe, a segunda visita a um texto antigo faz milagres. Sem contar que o prazer da edição é, para mim, muito mais saboroso que o da própria criação - que é sempre um tanto sofrida. Qual não foi a minha surpresa quando não encontrei a história em lugar algum. Nenhum dos computadores que usei nos últimos anos: o velho note CCE, o desktop de casa, o Macbook. Nada.
Considerei, por um breve momento, recomeçá-lo. Logo desisti. Um texto nunca sai igual, não importa que seja escrito pela mesma pessoa, que parta das mesmas premissas ou que conte a mesma história. Pode ficar parecido, mas mesmo essa garantia é frágil.  E se vai sair melhor ou pior, nunca se sabe. Especialmente porque a escolha das palavras nunca é a mesma. Depende do humor, da inspiração e de uma série de mecanismos desconhecidos que operam quando se vasculham as profundezas do subconsciente à procura da construção perfeita. Porque quando a gente vai pescar palavras nunca sabe qual vai morder a isca. Às vezes vêm umas bem xexelentas. Aquelas que a gente pega, olha e devolve. Mas vez por outra vem à tona uma palavra dourada. Ela chega se debatendo toda, dá trabalho. Mas se encaixa como se tivesse nascido para exibir-se naquela sentença. E é esse o segundo melhor momento de um escritor.
De qualquer forma, é melhor eu esquecer o tal conto. Hoje o mar não está para peixe.